Confissão, 2025
Caderno, impressão jato de tinta
sobre papel e aço
24 x 60 x 16 cm
vistas da exposição “A CRIME, A CONFESSION AND A TRADE” na Nicoletti (Londres, 2025)
Um suporte de aço sustenta um caderno com uma confissão manuscrita em português e uma tradução impressa em inglês. Confissão parte de um duplo interesse que vem de “Pickpocket”, de Robert Bresson: (I) a ideia de combinar a aparente honestidade crua da confissão com “paraficções” e (II) pensar a confissão como um gênero.
O filme acompanha o protagonista em uma tentativa (frustrada) de narrar uma confissão coerente. A falta de motivação tanto para cometer os crimes quanto para escrever uma confissão é acompanhada por uma ruptura na causalidade. Roubando uma frase específica do filme que diz “Je sais que d’habitude les gens qui ont fait ces choses se taisent ou que ceux qui en parlent ne les ont pas faites et pourtant je les ai faites”, a confissão do artista apresenta uma cena de um crime cometido durante um evento social.
O texto começa – como é recorrente na tradição das confissões – com um questionamento existencial da estrutura das confissões e sua relação com as doutrinas, levantando a questão da possibilidade de uma confissão sem um contexto religioso.
Mais adiante, a descrição da situação sugere sutilmente uma atração quase erótica entre quem está prestes a roubar e a vítima, quando se diz: “Elaborando estratégias plausíveis para abordá-lo. Minhas intenções em relação a ele não poderiam ser explícitas; eu precisaria criar uma distração, um motivo para contato, tocar sua mão”.
Se, de modo geral, o filme ecoa Crime e Castigo (1866), de Fiódor Dostoiévski, o gênero das confissões traz outras relações intertextuais com Santo Agostinho e Liev Tolstói.





