ensaio, b, 2016
video colorido com som 
04’58”

ensaio, b é uma compilação de uma série de pequenos ensaios. O vídeo acompanha o aparecimento de uma luminária que projeta uma luz vermelha, e procede por um estranhamento na exploração da imagem, da materialidade da luz e da cor, do som, e do tempo por vezes dilatado dos planos. 

A luminária surge em cada quadro, sem sentido ou explicação. Os cortes são bruscos (tanto do vídeo quanto do som), a construção sonora evoca um momento noturno, pela ausência de ruídos diurnos, captando sons de latidos, automóveis, e dos movimentos do espaço interior do filme.

Por mais que no vídeo o vermelho achate as coisas num plano bidimensional, conferindo um caráter de virtualidade ao espaço, reduzindo a tactilidade dos objetos, o som, repleto de ruídos ambientes, assume alguma dimensão material, sensória, contrapondo-se à falta de tactilidade da imagem. A adição de elementos virtuais à imagem capturada acrescenta complexidade à exploração dos planos da imagem.

Retroativamente, ensaio, b coloca em questão alguns dos principais topos da pesquisa que se seguiria em trabalhos posteriores. Uma ideia de espaço de exceção ou heterotópico (indicado nesse vídeo pela delimitação do espaço do apartamento na madrugada, em seu funcionamento não-regular),e a noção de estranhamento que aparece as vezes associada à personificação de um objeto.

sem título (orgasmo), 2014

tinta látex e óleo sobre tela
120 x 80 cm

vistas de banheirão, na Casa Alagada, São Paulo

vedetes, 2017
máscara de látex, suporte, servomotor, arduino, projetor
dimensões variáveis

em parceria com o grupo AMUDI da Escola Politécnica da USP

vista da instalação na exposição 
ruídos e ausências contínuos
curadoria de Guilherme Texeira na Galeria Sancovsky;
ArteLondrina7 com curadoria de Danillo Villa e Clarissa Diniz na DaP – Divisão de Artes Plásticas

vedetes, se articula em lógicas de superfícies, buscando explicitar a imagem enquanto superficialidade (sem profundidade), que é a condição mesma das vedetes. Essa lógica está tanto na concepção de máscara ou na projeção que toca essa pele e até mesmo no mecanismo posto nu. Deve ser importante notar que a luz é proveniente de um outro elemento, de maneira a ficar claro que existe um emissor de imagem (a vedete não carrega sua própria imagem). Somado a essas projeções, o movimento mecânico, dessincronizado, busca criar um descompasso entre os diferentes elementos da obra, da imagem e da mecânica por trás dela. Todavia, a obra guarda uma ambiguidade de apresentar essas imagens enquanto superfície, deformadas pelo movimento maquinal-repetitivo e, ao mesmo tempo, seduzir o observador com as imagens mesmas do consumo dessas figuras, de seus lábios e seu charme frente às câmeras. 

Segundo a tese de número sessenta da Sociedade do Espetáculo de Guy Debord “A vedete do espetáculo, a representação espetacular do homem vivo, ao concentrar em si a imagem de um papel possível, concentra, pois, essa banalidade. A condição de vedete é a especialização do vivido aparente, o objeto de identificação com a vida aparente sem profundidade, que deve compensar o estilhaçamento das especializações produtivas de fato vividas. As vedetes existem para representar tipos variados de estilos de vida e de estilos de compreensão da sociedade, livres para agir globalmente. Eles encarnam o resultado inacessível do trabalho social, imitando subprodutos desse trabalho que são magicamente transferidos acima dele como sua finalidade: o poder e as férias, a decisão e o consumo que estão no inicio e no fim de um processo indiscutido”.

Arnold Schwarzenegger, 2018-2019
projeção de video sobre chapa de PVC expandido e ferro 
193 x 106 cm + projetor

Um recorte sobre uma chapa de PVC expandido soma quatro poses de Arnold Schwarzenegger. Sobre a silhueta dessas possibilidades são projetadas as poses alternadamente, em fades lentos de uma para a outra, mimetizando a movimentação que o modelo poderia ter em uma exibição de fisiculturismo. A sequência que se mantem em loop reitera uma ideia de superficialidade do corpo. Isto é, por mais que esse corpo seja dotado de uma volumetria extraordinária, é frequentemente visto enquanto imagem, foi feito para ser apreciado enquanto imagem, para alguns, de um corpo ideal. Essa bidimensionalidade é reforçada pela planaridade do papelão que habita um espaço intermediário entre a pintura (imagem) e a escultura (corpo).

A obra se insere, portanto, dentro da pesquisa da corporeidade da imagem e do caráter imagético da escultura (ou do corpo) que se desenvolve em outras obras mais persistentemente a partir de 2016. Nesse caso, assim como nos experimentos em látex, o corpo guarda diversas possibilidades de forma, condensando-as em um único espaço, de maneira que a silhueta total mais pareça uma massa informe do que um corpo. 

Habitam o imaginário desses totens de papelão os heróis e atores de cinema, políticos e pessoas públicas, além de figuras fitness e atletas. De alguma maneira, Schwarzenegger incorpora todos esses papéis, que vai desde o memorável Terminator à sua atuação enquanto Governador do Estado da California e seu titulo enquanto Mr. Universe. De fato, encarna a imagem do ciborgue, seja em seus personagens ou na construção de seu corpo-máquina.

retrato de costas, 2020
gelatina de prata
19 x 28.3 cm

dedinhos, 2021
pernas de manequim, ferro e dobradiças
resina de poliéster, durepoxi, ferro, broca de metal e braçadeira
18 x 9.6 x 11 cm

cabeça oca espuma de boneca 
video-instalação em três canais
43’00”

em colaboração com Quina Filmes

Ilê Sartuzi: Concepção / Direção / Dramaturgia / Produção de objetos / Projeção de vídeo
Marcus Garcia: Engenharia Mecânica / Mecatrônica / Programação
Vicente Antunes Ramos: Colaboração em Dramaturgia
CleverBot: Dramaturgia
Bruno Palazzo: Desenho de Som
Matheus Brant: Desenho e Operação de Luz
André Vidal: Operação de Luz

Arnold Schwarzenegger: ator
Danilo Arrabal: ator
Giovanna Monteiro: atriz
Hito Steyerl: atriz
Julia Pedreira: atriz
Maira do Nascimento: atriz
Rafael de Souza: ator

FILME: 

Produção: Quina filmes
Coordenação: Francisco Miguez

Captação:
Amanda Carvalho
Caio Antônio
Francisco Miguez
Mauricio Battistuci

Edição e Finalização:
Amanda Carvalho 
Francisco Miguez

Video-instalação:
Ilê Sartuzi

Consultoria Técnica:
Caio Antônio

Worstward Ho!, 2020
06’50”

Texto: Samuel Beckett
Interpretação: Miro Bersi
Trilha Sonora: Bruno Palazzo

Comissionado pelo Instituto Moreira Salles

Worstward Ho! estabelece uma relação entre a experiência de isolamento e a vivência interna com o texto homônimo de Samuel Beckett de 1983. O vídeo percorre, em um lento e contínuo movimento, o espaço de um apartamento reconstruído através do processo de fotogrametria. Essa câmera fantasmática observa o apartamento vazio, apontando tão somente para uma atenção sem foco que, ao cabo de um longo percurso retorna ao ponto de início. Entre a cadência rítmica do texto e a imagem fluida, o vídeo habita um tempo dilatado de leitura, que confunde espaços “reais” e “virtuais” ou um possível lugar mental, encerrado em si mesmo.

cabeça oca espuma de boneca, 2019

peça teatral sem atores / instalação no tempo

43’00”

Através de diversos dispositivos que animam objetos na ausência de atores, a peça explora as inquietantes possibilidades de projeção de um corpo (ausente) em peças antropomórficas e no próprio espaço. Sem indicar um protagonista e um desenvolvimento narrativo tradicional, os fragmentos de (não)acontecimentos torna a atenção do espectador dispersa entre a dessincronia de imagens e sons que mimetizam, em alguns momentos, uma certa “vivacidade” todavia mediada. 

cabeça oca espuma de boneca é uma obra teatral sem atores onde figuram corpos, bonecos, manequins e fantasmagorias das mais diversas, explorando a repetição e a substituição enquanto formas poéticas e estratégias de construção e modificação do corpo. É um desenvolvimento da obra de Ilê Sartuzi que se anima dentro do próprio ambiente de produção, numa grande instalação no tempo. Os dispositivos que regulam a obra são transparentes e sua precariedade denuncia giros em vão de uma máquina que está prestes a fugir do controle.

Apesar da centralidade do corpo enquanto imagem, mesmo dos sons produzidos, seus resquícios são sempre a marca de uma ausência. Para além da subjugação desses corpos a tecnologias desmaterializantes e da diluição da ideia de corporeidade dentro de uma virtualidade luminosa, a peça explora um imaginário ligado a interioridade doméstica e aos exercícios infantis de imaginação. Essa familiaridade deslocada, no entanto, desperta um sentimento de estranhamento frente a esses objetos (in)animados.

Ilê Sartuzi: Concepção / Direção / Dramaturgia / Produção de objetos / Projeção de vídeo
Marcus Garcia: Engenharia Mecânica / Mecatrônica / Programação
Vicente Antunes Ramos: Colaboração em Dramaturgia
CleverBot: Dramaturgia
Bruno Palazzo: Desenho de Som
Matheus Brant: Desenho e Operação de Luz
André Vidal: Operação de Luz

Arnold Schwarzenegger: ator
Danilo Arrabal: ator
Giovanna Monteiro: atriz
Hito Steyerl: atriz
Julia Pedreira: atriz
Maira do Nascimento: atriz
Rafael de Souza: ator

Agradecimentos:

Bruno Ferreira
Cia. Livre
Daniela Machado 
Depois do Fim da Arte 
Dora Longo Bahia 
Eduardo Joly
Fernando Lacerda 
Galpão do Folias 
Igor Vice
Janina McQuoid 
Lara Girardi Caitano
Marcelo Maffei 
Marina Lima
Nina Lins
Pedro Canales 
Pedro França 
Ricardo Carioba 
Ricardo Kugelmas 
Tiê Franco Brotto 
Victor Maia 
Wisrah Villefort

rrrrrrrr, 2018
resina de poliuretano e unhas postiças
17.5 x 14.8 x 17.5 cm 

colaboração com Ana Matheus Abbade

montagem na exposição faço pé e mão no arte_passagem