Direção audiovisual e montagem: Francisco Miguez Direção de fotografia: Caio Antônio e Maurício Battistuci Som direto: Amanda Carvalho Correção de cor e finalização: Caio Antônio Produção: Quina filmes
Ilê Sartuzi: Direção; Dramaturgia; Direção de Arte; Vídeo e Projeção Marcus Garcia: Mecânica; Programação; Cenotécnica Bruno Palazzo: Desenho de Som Matheus Brant: Desenho de Luz Carol Angelo: Produção Executiva Vicente Antunes Ramos: Assistência de Dramaturgia CleverBot: Assistência de Dramaturgia
Danilo Arrabal: ator Giovanna Monteiro: atriz Julia Pedreira: atriz Maira do Nascimento: atriz Rafael de Souza: ator
Abrem-se as cortinas, há uma tentativa de enunciação que resulta tão somente em uma vibração, ou ainda esse imperativo do dizer torna impossível terminar uma discussão. Essas pequenas cenas acontecem em diferentes ambientes do auroras, onde figuram objetos mecanizados, coreografias pré-programadas e aleatórias, sinais de luz, pinturas e vídeos. O que elas têm em comum é que parecem conter uma certa teatralidade na maneira como se apresentam.
Na exposição de Ilê Sartuzi no auroras, as ações parecem um começo sempre postergado, fadadas ao fracasso, ou encontram dificuldade na articulação de um sentido coerente. A tentativa de comunicação emite uma luz vermelha em código morse a partir do interior da casa enquanto escuta-se ruídos de outras partes. Formalmente, a repetição encadeia essas partes em um loop que abrange virtualmente todos os objetos. Isto é, a “vivacidade” das coisas é programada para que existam momentos de saturação de estímulos e outros de ações mais pontuais.
As escalas dos objetos variam de miniaturas, uma cortina para pessoas pequenas, algo do tamanho de brinquedos infantis e o padrão de manequins adultos. Eles remetem à universos de representações, seja pelos exercícios de imaginação infantil ou pelos elementos do teatro.
Pela natureza dos trabalhos, o horário de visitação da exposição é alterado, começando ao anoitecer. Dessa maneira, a mostra permanece desativada durante o dia. Nessa atmosfera, a casa é tomada por objetos inanimados enquanto cria-se uma possível narrativa de novos moradores.
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The curtains open, there is an attempt to enunciate something that results only in a vibration, or even this imperative to speak makes it impossible to end a discussion. These small scenes take place in different rooms at auroras, featuring mechanized objects, pre-programmed and random choreographies, light signals, paintings and videos. What they have in common is that they seem to have a certain theatricality in the way they present themselves.
In Ilê Sartuzi’s exhibition at auroras, actions seem to be a beginning that is always postponed, doomed to failure, or they find it difficult to articulate a coherent meaning. The communication attempt emits a red light in morse code from inside the house while listening to noise from other parts. Formally, repetition link these parts together in a loop that encompasses virtually all objects. That is, the “liveliness” of things is programmed so that there are moments of saturation of stimuli and others of more punctual actions.
The scales of the objects range from miniatures, a curtain for small people, something the size of children’s toys, and the standard size of an adult mannequins. They refer to universes of representations, whether through childish imagination exercises or theater elements.
Due to the nature of the works, the visiting hours of the exhibition are changed, starting at dusk. The show remains inactive during the day. In this atmosphere, the house is filled with inanimate objects while a possible narrative of new residents is created.
Faço pé e mão
09 de Agosto – 22 de Setembro de 2018
A colaboração entre a artista carioca Ana Matheus Abbade e Ilê Sartuzi cria uma vitrine que, embora retire elementos dos mostruários tradicionais de manicures e salões de beleza, resulta numa esquisita composição de um conjunto de pedaços de corpos – pés, braços e mãos, cabeça e dedos avulsos – com unhas postiças, alongadas e pontiagudas, que atravessam o espaço.
Dentro da produção de ambos os artistas, a reflexão sobre a não-normalidade em relação à exploração do corpo sempre foi uma questão central. A partir disso, a ideia de estabelecer uma vitrine que se assemelha ao que se veria de um estabelecimento comercial, contudo absurda, é o ponto de partida para a segunda intervenção no arte_passagem. Deve ser apontado, que o ambiente onde a intervenção acontece, o centro da cidade de São Paulo, é um espaço onde esse tipo de visualidade é recorrente, além de ser ponto comum para corpos que embaralham a normatividade.
“Faço Pé e Mão” anuncia o serviço ofertado pela artista, manicure e pedicure Ana Matheus durante o período da exibição; no interior da vitrine e em ruas do entorno, anúncios informam ao público o contato para o agendamento. O título refere-se, no entanto, tanto ao exercício de uma prática quanto à produção material desses dois pedaços de corpos. A vitrine assume, portanto, um caráter comercial, complexificando as funções desse espaço, ao mesmo tempo em que pode ser tomada enquanto a constituição de um corpo – estranho – formado por fragmentos. Esse corpo reside num lugar entre a imagem, própria de sua posição de manequim, e uma materialidade quase abjeta, que é intensificada pela presença das unhas alongadas e curvas que ocupam um espaço entre o produto e o interesse curioso que provoca um freak show.
co-criador do arte_passagem e organizador do DESFILÃO, Ilê Sartuzi apresentou três conjuntos de peças em látex. No conjunto de pele do corpo inteiro, uma cabeça com a impressão das feições de Kim Kardashian era carregada e também esteve na vitrine.
clique aqui para mais informações sobre o DESFILÃO
fotografias de arte_passagem, Daniel Albuquerque, Eduardo Viveiros, Julia Coelho e Lucia Koch.
Participaram desta edição do DESFILÃO:
Aleta Valente a.k.a ex_miss_febem2 André Barion + Mariano Barone AVAF (assume vivid astro focus) CHRUA Cléo Döbberthin + Gokula Stoffel + Janina McQuoid + Santarosa Barrero + Yuli Yamagata Daniel Albuquerque Dudux Henrique Cutait Igor Vice Ilê Sartuzi Janina McQuoid Maria Palmeiro Marina Avello Pedro França Pepi Lemes Roberta Uiop
cabeça oca espuma de boneca, 2019
peça teatral sem atores / instalação no tempo
43’00”
Através de diversos dispositivos que animam objetos na ausência de atores, a peça explora as inquietantes possibilidades de projeção de um corpo (ausente) em peças antropomórficas e no próprio espaço. Sem indicar um protagonista e um desenvolvimento narrativo tradicional, os fragmentos de (não)acontecimentos torna a atenção do espectador dispersa entre a dessincronia de imagens e sons que mimetizam, em alguns momentos, uma certa “vivacidade” todavia mediada.
cabeça oca espuma de boneca é uma obra teatral sem atores onde figuram corpos, bonecos, manequins e fantasmagorias das mais diversas, explorando a repetição e a substituição enquanto formas poéticas e estratégias de construção e modificação do corpo. É um desenvolvimento da obra de Ilê Sartuzi que se anima dentro do próprio ambiente de produção, numa grande instalação no tempo. Os dispositivos que regulam a obra são transparentes e sua precariedade denuncia giros em vão de uma máquina que está prestes a fugir do controle.
Apesar da centralidade do corpo enquanto imagem, mesmo dos sons produzidos, seus resquícios são sempre a marca de uma ausência. Para além da subjugação desses corpos a tecnologias desmaterializantes e da diluição da ideia de corporeidade dentro de uma virtualidade luminosa, a peça explora um imaginário ligado a interioridade doméstica e aos exercícios infantis de imaginação. Essa familiaridade deslocada, no entanto, desperta um sentimento de estranhamento frente a esses objetos (in)animados.
Ilê Sartuzi: Concepção / Direção / Dramaturgia / Produção de objetos / Projeção de vídeo Marcus Garcia: Engenharia Mecânica / Mecatrônica / Programação Vicente Antunes Ramos: Colaboração em Dramaturgia CleverBot: Dramaturgia Bruno Palazzo: Desenho de Som Matheus Brant: Desenho e Operação de Luz André Vidal: Operação de Luz
Arnold Schwarzenegger: ator Danilo Arrabal: ator Giovanna Monteiro: atriz Hito Steyerl: atriz Julia Pedreira: atriz Maira do Nascimento: atriz Rafael de Souza: ator
Agradecimentos:
Bruno Ferreira Cia. Livre Daniela Machado Depois do Fim da Arte Dora Longo Bahia Eduardo Joly Fernando Lacerda Galpão do Folias Igor Vice Janina McQuoid Lara Girardi Caitano Marcelo Maffei Marina Lima Nina Lins Pedro Canales Pedro França Ricardo Carioba Ricardo Kugelmas Tiê Franco Brotto Victor Maia Wisrah Villefort
A Dollhouse Gallery é a constituição de uma galeria de arte contemporânea que se apresenta enquanto especulação artística. Um trabalho e seu meio de exibição ao mesmo tempo, a exposição como obra. É evidente que as condições e possibilidades de exposição de arte se transformaram drasticamente com as experiências de isolamento social e é na esteira dessas reformulações que Dollhouse Gallery se insere. Como uma reflexão – evidentemente com certo grau de ironia – das exposições em espaços virtuais, o trabalho assume algumas das características clichés do mercado de arte para construir essa galeria.
O trabalho consiste em um tour virtual dentro de uma casa de bonecas. Essa espécie de “viewing room” toma como modelo uma casinha criada para abrigar uma cena da peça cabeça oca espuma de boneca. Não só replica seus aspectos físicos, mas assume também, nesse pacote, a narrativa que impregnava essa casa de bonecas em seu contexto original (a cena pode ser assistida no sótão da casinha). Dentro da narrativa, a repetição era explorada enquanto forma. Aqui, essa repetição assume a característica de uma mise en abyme, onde não só a representação da casinha está dentro da casa de bonecas que retorna para ela mesma, mas também no desenvolvimento de um trabalho dentro do outro ao longo da pesquisa artística de Ilê Sartuzi.
O que está em jogo, portanto, é menos o conjunto de trabalhos que constituem essa exposição, do que a exposição em si que é tida como “objeto”. Assim como o dispositivo da Casa de Bonecas tornou-se um possível suporte para outras dramaturgias no espaço físico, a Dollhouse Gallery é, nesse sentido, um lugar virtual por excelência, isto é, existe como potência prenhe de possibilidades para outras ocupações artísticas.
agradecimentos de programação: tiê franco brotto e henrique casimiro