cabeça oca espuma de boneca, 2019-2022

peça teatral com atores ausentes

46’00”

junho de 2022, SESC Pompéia

leia aqui o texto de Tiago Mesquita

leia aqui o texto de João GG

fotografia digital: Julia Thompson

fotografia analógica PB: Ilê Sartuzi

Video:

Direção audiovisual e montagem: Francisco Miguez
Direção de fotografia: Caio Antônio e Maurício Battistuci
Som direto: Amanda Carvalho
Correção de cor e finalização: Caio Antônio
Produção: Quina filmes

Ilê Sartuzi: Direção; Dramaturgia; Direção de Arte; Vídeo e Projeção
Marcus Garcia: Mecânica; Programação; Cenotécnica
Bruno Palazzo: Desenho de Som
Matheus Brant: Desenho de Luz
Carol Angelo: Produção Executiva
Vicente Antunes Ramos: Assistência de Dramaturgia
CleverBot: Assistência de Dramaturgia

Danilo Arrabal: ator
Giovanna Monteiro: atriz
Julia Pedreira: atriz
Maira do Nascimento: atriz
Rafael de Souza: ator

A. E A de novo.

A. And A again.

auroras, São Paulo

31.07 – 02.10 2021

clique aqui para acessar o site do auroras

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Paula Alzugaray – A casa e seu duplo (Select)

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Abrem-se as cortinas, há uma tentativa de enunciação que resulta tão somente em uma vibração, ou ainda esse imperativo do dizer torna impossível terminar uma discussão. Essas pequenas cenas acontecem em diferentes ambientes do auroras, onde figuram objetos mecanizados, coreografias pré-programadas e aleatórias, sinais de luz, pinturas e vídeos. O que elas têm em comum é que parecem conter uma certa teatralidade na maneira como se apresentam.

Na exposição de Ilê Sartuzi no auroras, as ações parecem um começo sempre postergado, fadadas ao fracasso, ou encontram dificuldade na articulação de um sentido coerente. A tentativa de comunicação emite uma luz vermelha em código morse a partir do interior da casa enquanto escuta-se ruídos de outras partes. Formalmente, a repetição encadeia essas partes em um loop que abrange virtualmente todos os objetos. Isto é, a “vivacidade” das coisas é programada para que existam momentos de saturação de estímulos e outros de ações mais pontuais.

As escalas dos objetos variam de miniaturas, uma cortina para pessoas pequenas, algo do tamanho de brinquedos infantis e o padrão de manequins adultos. Eles remetem à universos de representações, seja pelos exercícios de imaginação infantil ou pelos elementos do teatro.

Pela natureza dos trabalhos, o horário de visitação da exposição é alterado, começando ao anoitecer. Dessa maneira, a mostra permanece desativada durante o dia. Nessa atmosfera, a casa é tomada por objetos inanimados enquanto cria-se uma possível narrativa de novos moradores.

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The curtains open, there is an attempt to enunciate something that results only in a vibration, or even this imperative to speak makes it impossible to end a discussion. These small scenes take place in different rooms at auroras, featuring mechanized objects, pre-programmed and random choreographies, light signals, paintings and videos. What they have in common is that they seem to have a certain theatricality in the way they present themselves.

In Ilê Sartuzi’s exhibition at auroras, actions seem to be a beginning that is always postponed, doomed to failure, or they find it difficult to articulate a coherent meaning. The communication attempt emits a red light in morse code from inside the house while listening to noise from other parts. Formally, repetition link these parts together in a loop that encompasses virtually all objects. That is, the “liveliness” of things is programmed so that there are moments of saturation of stimuli and others of more punctual actions.

The scales of the objects range from miniatures, a curtain for small people, something the size of children’s toys, and the standard size of an adult mannequins. They refer to universes of representations, whether through childish imagination exercises or theater elements.

Due to the nature of the works, the visiting hours of the exhibition are changed, starting at dusk. The show remains inactive during the day. In this atmosphere, the house is filled with inanimate objects while a possible narrative of new residents is created.

Faço pé e mão

09 de Agosto – 22 de Setembro de 2018

A colaboração entre a artista carioca Ana Matheus Abbade e Ilê Sartuzi cria uma vitrine que, embora retire elementos dos mostruários tradicionais de manicures e salões de beleza, resulta numa esquisita composição de um conjunto de pedaços de corpos – pés, braços e mãos, cabeça e dedos avulsos – com unhas postiças, alongadas e pontiagudas, que atravessam o espaço.

Dentro da produção de ambos os artistas, a reflexão sobre a não-normalidade em relação à exploração do corpo sempre foi uma questão central. A partir disso, a ideia de estabelecer uma vitrine que se assemelha ao que se veria de um estabelecimento comercial, contudo absurda, é o ponto de partida para a segunda intervenção no arte_passagem. Deve ser apontado, que o ambiente onde a intervenção acontece, o centro da cidade de São Paulo, é um espaço onde esse tipo de visualidade é recorrente, além de ser ponto comum para corpos que embaralham a normatividade.

“Faço Pé e Mão” anuncia o serviço ofertado pela artista, manicure e pedicure Ana Matheus durante o período da exibição; no interior da vitrine e em ruas do entorno, anúncios informam ao público o contato para o agendamento. O título refere-se, no entanto, tanto ao exercício de uma prática quanto à produção material desses dois pedaços de corpos. A vitrine assume, portanto, um caráter comercial, complexificando as funções desse espaço, ao mesmo tempo em que pode ser tomada enquanto a constituição de um corpo – estranho – formado por fragmentos. Esse corpo reside num lugar entre a imagem, própria de sua posição de manequim, e uma materialidade quase abjeta, que é intensificada pela presença das unhas alongadas e curvas que ocupam um espaço entre o produto e o interesse curioso que provoca um freak show.

co-criador do arte_passagem e organizador do DESFILÃO, Ilê Sartuzi apresentou três conjuntos de peças em látex. No conjunto de pele do corpo inteiro, uma cabeça com a impressão das feições de Kim Kardashian era carregada e também esteve na vitrine.

clique aqui para mais informações sobre o DESFILÃO

fotografias de arte_passagem, Daniel Albuquerque, Eduardo Viveiros, Julia Coelho e Lucia Koch. 

Participaram desta edição do DESFILÃO:

Aleta Valente a.k.a ex_miss_febem2
André Barion + Mariano Barone
AVAF (assume vivid astro focus)
CHRUA
Cléo Döbberthin + Gokula Stoffel + Janina McQuoid + Santarosa Barrero + Yuli Yamagata
Daniel Albuquerque
Dudux
Henrique Cutait
Igor Vice
Ilê Sartuzi
Janina McQuoid
Maria Palmeiro
Marina Avello
Pedro França
Pepi Lemes
Roberta Uiop

cabeça oca espuma de boneca, 2019

peça teatral sem atores / instalação no tempo

43’00”

Através de diversos dispositivos que animam objetos na ausência de atores, a peça explora as inquietantes possibilidades de projeção de um corpo (ausente) em peças antropomórficas e no próprio espaço. Sem indicar um protagonista e um desenvolvimento narrativo tradicional, os fragmentos de (não)acontecimentos torna a atenção do espectador dispersa entre a dessincronia de imagens e sons que mimetizam, em alguns momentos, uma certa “vivacidade” todavia mediada. 

cabeça oca espuma de boneca é uma obra teatral sem atores onde figuram corpos, bonecos, manequins e fantasmagorias das mais diversas, explorando a repetição e a substituição enquanto formas poéticas e estratégias de construção e modificação do corpo. É um desenvolvimento da obra de Ilê Sartuzi que se anima dentro do próprio ambiente de produção, numa grande instalação no tempo. Os dispositivos que regulam a obra são transparentes e sua precariedade denuncia giros em vão de uma máquina que está prestes a fugir do controle.

Apesar da centralidade do corpo enquanto imagem, mesmo dos sons produzidos, seus resquícios são sempre a marca de uma ausência. Para além da subjugação desses corpos a tecnologias desmaterializantes e da diluição da ideia de corporeidade dentro de uma virtualidade luminosa, a peça explora um imaginário ligado a interioridade doméstica e aos exercícios infantis de imaginação. Essa familiaridade deslocada, no entanto, desperta um sentimento de estranhamento frente a esses objetos (in)animados.

Ilê Sartuzi: Concepção / Direção / Dramaturgia / Produção de objetos / Projeção de vídeo
Marcus Garcia: Engenharia Mecânica / Mecatrônica / Programação
Vicente Antunes Ramos: Colaboração em Dramaturgia
CleverBot: Dramaturgia
Bruno Palazzo: Desenho de Som
Matheus Brant: Desenho e Operação de Luz
André Vidal: Operação de Luz

Arnold Schwarzenegger: ator
Danilo Arrabal: ator
Giovanna Monteiro: atriz
Hito Steyerl: atriz
Julia Pedreira: atriz
Maira do Nascimento: atriz
Rafael de Souza: ator

Agradecimentos:

Bruno Ferreira
Cia. Livre
Daniela Machado 
Depois do Fim da Arte 
Dora Longo Bahia 
Eduardo Joly
Fernando Lacerda 
Galpão do Folias 
Igor Vice
Janina McQuoid 
Lara Girardi Caitano
Marcelo Maffei 
Marina Lima
Nina Lins
Pedro Canales 
Pedro França 
Ricardo Carioba 
Ricardo Kugelmas 
Tiê Franco Brotto 
Victor Maia 
Wisrah Villefort

Dollhouse Gallery, 2020
Tour Virtual / Viewing Room Website 
www.dollhouse.gallery

Dollhouse Gallery é a constituição de uma galeria de arte contemporânea que se apresenta enquanto especulação artística. Um trabalho e seu meio de exibição ao mesmo tempo, a exposição como obra. É evidente que as condições e possibilidades de exposição de arte se transformaram drasticamente com as experiências de isolamento social e é na esteira dessas reformulações que Dollhouse Gallery se insere. Como uma reflexão – evidentemente com certo grau de ironia – das exposições em espaços virtuais, o trabalho assume algumas das características clichés do mercado de arte para construir essa galeria.

O trabalho consiste em um tour virtual dentro de uma casa de bonecas. Essa espécie de “viewing room” toma como modelo uma casinha criada para abrigar uma cena da peça cabeça oca espuma de boneca. Não só replica seus aspectos físicos, mas assume também, nesse pacote, a narrativa que impregnava essa casa de bonecas em seu contexto original (a cena pode ser assistida no sótão da casinha). Dentro da narrativa, a repetição era explorada enquanto forma. Aqui, essa repetição assume a característica de uma mise en abyme, onde não só a representação da casinha está dentro da casa de bonecas que retorna para ela mesma, mas também no desenvolvimento de um trabalho dentro do outro ao longo da pesquisa artística de Ilê Sartuzi.

O que está em jogo, portanto, é menos o conjunto de trabalhos que constituem essa exposição, do que a exposição em si que é tida como “objeto”. Assim como o dispositivo da Casa de Bonecas tornou-se um possível suporte para outras dramaturgias no espaço físico, a Dollhouse Gallery é, nesse sentido, um lugar virtual por excelência, isto é, existe como potência prenhe de possibilidades para outras ocupações artísticas.

agradecimentos de programação: tiê franco brotto e henrique casimiro